O GIFI, então com a denominação Grupo de Investigação de Fenómenos Insólitos- G.I.F.I., foi criado em 15 de Novembro de 1976 por dois amigos, que contavam apenas 10 anos de idade.
Vivia-se na época, em Portugal, a grande euforia da Ovnilogia, multiplicando-se as associações de investigação, a divulgação de casos pelos órgãos de comunicação social e as publicações sobre o insólito, tanto periódicas como em livro.
O momento era, portanto, propício ao despertar para estes temas, facto que contribuiu para que rapidamente novos membros se juntassem aos fundadores.
Nesta sintética história do GIFI, podemos considerar nove fases:
1- Clube de pré-adolescentes e auto-formação:
A primeira fase do GIFI decorre da data da sua fundação até ao Verão de 1979.
A actividade centrou-se na recolha de informação pelos associados, num fecundo esforço de auto-formação, quer pela leitura de livros e outras publicações, quer pela organização de um arquivo de notícias de jornal.
Paralelamente, o acervo de informação reunido gerou amplas discussões acerca de diversos temas, com destaque para a Ovnilogia e os desaparecimentos misteriosos.
A discussão interna veio a ser alargada para fora da associação, através de debates e exposições ao nível escolar.
2- Investigação e divulgação:
Num segundo período, situado entre Julho de 1979 e o final de 1983, regista-se o aumento do número de associados, bem como a criação de uma delegação em Albufeira, entretanto extinta.
Avança-se nesta segunda fase para a actividade de investigação propriamente dita, desde logo com o estudo do célebre caso de Ovnilogia ocorrido a 15 de Julho de 1979 (quando, como diziam os jornais, “a noite fez-se dia em Portugal”), mas também com a atenção dispensada, em termos de investigação de gabinete, ao episódio da queda do Skylab.
Outras investigações, de campo e de gabinete, se seguiram contribuindo para o reforço do arquivo documental do GIFI e para o aperfeiçoamento das capacidades dos seus membros.
Iniciou-se, igualmente, uma actividade mais elaborada e sistemática de divulgação, que passou pela realização de três exposições na Livraria Codilivro, em Benfica, (GIFIOVNI 80, GIFIOVNI 81 e INSÓLITO 83), bem como através de pequenas mostras em liceus e a publicação da revista “QUASAR”, durante o primeiro semestre de 1981.
Foram, ainda, concedidas as primeiras entrevistas a jornais e rádios.
3- Uma associação em movimento:
A terceira fase da nossa associação pode situar-se entre 1984 e 1987, correspondendo ao amadurecimento e consolidação do GIFI.
A actividade de investigação, nas diversas áreas objecto da actividade da associação, alargou-se a todo o território de Portugal continental, passando inicialmente por uma aposta na quantidade, para depois, paulatinamente, se incentivar o melhoramento das técnicas utilizadas.
De facto, para além de recolhas de informação dispersas, foram nesta fase organizadas as primeiras investigações com carácter sistemático, muito embora por vezes a mera recolha de dados se tenha sobreposto a um labor analítico mais profundo.
Foi neste período que se iniciou a nossa investigação acerca da Quinta da Regaleira, inicialmente como um dos pólos de interesse de um estudo mais vasto, tendo como objecto os subterrâneos de Sintra.
Esta fase de desenvolvimento da associação correspondeu, também, ao início das investigações acerca da Ordem do Templo e sobre as sociedades iniciáticas.
No que se refere à divulgação, realizaram-se novas exposições em liceus, nas instalações do Instituto da Juventude em Lisboa, foi realizada uma sessão especial no Planetário de Lisboa e participou-se, na FIL, no certame “Festival da Juventude-Prá Frente Portugal”, o qual, pese embora as conotações políticas que em nada interessam ao GIFI, teve a virtualidade de facultar experiência no campo das mostras de grande dimensão.
Manteve-se igualmente um contacto regular com a comunicação social.
Esta fase culminou com a exposição “Questões e Segredos da História de Portugal- séculos XII a XVII”, realizada, com o apoio do Instituto da Juventude e da Câmara Municipal de Lisboa, no Padrão das Descobertas, com um assinalável sucesso comprovado pelas mais de 3000 entradas.
A exposição constituiu o repositório do grande esforço de investigação dirigido à história secreta e simbologia esotérica, efectuado até então, em especial no que toca ao acervo de informação obtido acerca das Ordens Militares do Templo e de Cristo, razão pela qual constituiu a síntese de uma boa parte do esforço de investigação realizado neste período.
Foi igualmente nesta fase que o GIFI se constituiu como associação de direito privado sem fins lucrativos, a 16 de Abril de 1985, obtendo igualmente e de forma estável o apoio financeiro e material do Instituto da Juventude.
4- Crescimento:
Uma quarta fase registou-se entre 1988 e 1991, durante a qual se trabalhou essencialmente no desenvolvimento da associação para além do núcleo duro original.
Em especial com base na nossa participação no “Fórum Estudante 89”, conseguiu-se alargar o número de associados para mais de 50, com alguma representação fora da região de Lisboa.
Esse crescimento da estrutura da associação implicou não só a necessidade de realização de acções de formação interna, como também um esforço particular para integrar os novos associados nas equipas de investigação.
Incrementou-se de forma intensa o cuidado na preparação prévia e sistematização dos diversos projectos de investigação desenvolvidos, bem como o recurso a especialistas externos. Realizaram-se, assim, com sucesso, diversos trabalhos nas áreas de Fenómenos Paranormais, História Secreta e Ovnilogia.
Refira-se, pela sua relevância perene, os estudos sobre a Quinta da Regaleira, os cultos a corpos incorruptos no Norte de Portugal, os rituais mágicos na praia de Miramar e acerca de diversas organizações esotéricas com actividade no nosso país.
Nesta fase desenvolveu-se uma maior preocupação com as consequências dos resultados das nossas investigações para a comunidade em que nos inserimos, tanto ao nível da desmistificação, como no que se refere aos potenciais efeitos danosos de certas práticas para a saúde física e mental da população.
No que toca à divulgação, concentrou-se a atenção na comunicação social, como via mais efectiva de contacto com o público, quer através do lançamento de um projecto de série documental para televisão, quer mediante o contacto com jornalistas e a emissão de press-releases.
5- Perante o grande público:
Numa quinta fase, desde 1992 e até finais de 1995, mantiveram-se as linhas de trabalho anteriormente delineadas, nomeadamente em termos temáticos, mas verificou-se igualmente a preocupação de corrigir a estrutura interna da associação, por forma a fazer face aos novos afazeres profissionais e responsabilidades familiares do núcleo base de associados, tendo-se , inclusivamente, registado ausências prolongadas no estrangeiro de alguns dos nossos membros-chave.
Os estatutos da associação foram integralmente remodelados, alterando-se a sua denominação para “GIFI- Associação Portuguesa para a Investigação”, opção que resultou da necessidade sentida de demarcação quanto à forma como, em senso comum, se entendem os fenómenos insólitos. Igualmente, reformulou-se a estrutura contabilística, desde logo mediante a contratação de uma técnica dessa área.
Realizada essa alteração estrutural, verificou-se que o núcleo essencial de associados se reduziu a pouco mais de uma dezena, mantendo-se, no entanto, um conjunto de outros associados cuja inscrição, não correspondendo a uma actividade regular no seio do GIFI, se reconduziu a uma verdadeira lista de contactos de pessoas interessadas nos temas a que a associação se dedica.
Noutro âmbito, participou-se em algumas edições do Congresso de Vilar de Perdizes, correspondendo a novos projectos de investigação na área das medicinas alternativas.
No que se refere à divulgação, para além da manutenção dos contactos regulares com a comunicação social, concretizou-se em 1995 o projecto de série televisiva, através de um conjunto de reportagens realizadas para o “Novo Jornal” da TVI.
Tendo-se tratado de um ponto alto no que se refere ao contacto da associação com um público de nível nacional, a experiência com a TVI permitiu igualmente reunir, em escassos meses, um acervo muito significativo de informação acerca de vários assuntos centrais para a associação, em particular os relativos às organizações esotéricas, às práticas mágicas, às medicinas alternativas e às crenças populares.
6- Travessia do deserto:
A sexta fase da nossa existência vai de 1996 a 2000, correspondendo a uma longa “ressaca” do esforço concentrado de investigação e de divulgação que constituiu o projecto TVI, adensada pelo continuada falta de disponibilidade dos nossos associados, agora reduzidos a um núcleo duro inferior a 15 pessoas.
Num período da vida caracterizado pela constituição (e, por vezes, reconstituição) de núcleos familiares, bem como pela aposta na vida profissional e, em alguns casos, académica, tornou-se difícil manter um nível adequado de actividade associativa.
No entanto, o GIFI manteve-se com base nas intensas relações de amizade que existem entre os seus associados.
Lançou-se, neste período temporal, a página Internet da associação, numa primeira versão entretanto abandonada, em consonância com a nossa percepção de que, de então em diante, a nossa sede social seria, essencialmente, a web.
Manteve-se, igualmente, um contacto regular com a comunicação social e procurou-se marcar presença em acções de divulgação da temática a que nos dedicamos, nomeadamente no Congresso “Fronteiras da Ciência” e, como oradores, em reuniões de clubes Lion e conferências universitárias.
Em 2000 iniciou-se a nossa intervenção, como oradores na Tertúlia do Bar do Além, em Alenquer, que se veio a revelar um permanente fórum de debate sobre os temas a que o GIFI se dedica e, portanto, como um forte estímulo para o aprofundamento de investigações em curso, passíveis de ser apresentadas na tertúlia.
Foi dada continuidade à investigação sobre sociedades iniciáticas, com participação em algumas iniciativas organizadas por este tipo de associações.
Em 1999 reiniciou-se a investigação acerca da presença da Ordem do Templo em Portugal, nomeadamente através da retoma das investigações de campo em antigas comendas templárias.
7- Idade adulta:
A sétima fase decorreu de 2001 até 2015, caracterizando-se num primeiro momento, essencialmente até 2006, por um forte reforço do contacto entre os associados, através da interligação permitida pelo info@gifi, pelo reforço das presenças na reunião anual da associação e mediante a realização de deslocações com objectivos culturais, nomeadamente a locais de relevante interesse patrimonial.
Para além de intervenções relativas a assuntos isolados, manteve-se uma linha continuada de investigações sistemáticas, umas já em curso anteriormente, como a relativa aos templários, outras relançadas, como é o caso dos rituais mágicos e, ainda, novas iniciativas, tais como o milagre eucarístico de Santarém, o estudo das relações de Fernando Pessoa com Aleister Crowley ou a investigação sobre a biblioteca esotérica do poeta.
Procurou-se, depois, estruturar investigações com reforço do método científico, com o devido desenho prévio de protocolos de investigação, orientadores dos trabalhos a realizar e potenciando o alcançar de resultados objectivos. Foi, assim, desenvolvido a partir de 2006 um estudo aprofundado sobre o neopaganismo em Portugal, no âmbito do qual se veio a realizar, a partir de 2011 o estudo comparado das Floralia (históricas, neopagãs e em Monsanto), resultando num dossier amplíssimo e com resultados muito sólidos. Prosseguiram, ainda, as recolhas dispersas de informação, muito e particular sobre os rituais mágicos em Portugal.
No que há divulgação diz respeito, a conclusão da investigação sobre a Quinta da Regaleira permitiu escrever um livro, que aguarda ainda publicação, tendo-se mantido a presença na Internet, na Tertúlia do Bar do Além, em conferências esporádicas (nomeadamente em clubes Lion e estabelecimentos de ensino), bem como ainda mediante contactos regulares com a comunicação social, nesta fase em especial com as televisões.
8- Memória e futuro:
A celebração dos 40 anos do GIFI, em 2016, foi devidamente assinalada por uma sessão solene, realizada no Sociedade História da Independência de Portugal, a 10 de Dezembro, contando com intervenções de membros do GIFI, mas também de Isobel Andrade (PFI Portugal) e de Luís Nandin de Carvalho.
Foi, também, ocasião de vários reencontros com antigos membros do GIFI, alguns afastados da associação há muitos anos, com o retomar de contactos pessoais e de amizade que, felizmente, de foram revelando perenes. As ligações prosseguiram via e-mail, Facebook e, mais tarde, com grande dinâmica através do WhatsApp (gifi4ever).
Concluída a investigação sobre as Floralia e prosseguindo os trabalhos relativos ao neopaganismo, demorou a surgir um grande tema de investigação, no âmbito do GIFI, que já em 2021, algo inesperadamente, se veio a revelar no âmbito da história, acerca dos Templários e da Ordem de Cristo. Por ora, ainda não haverá mais que revelar.
Participou-se, com gosto, no congresso “Revisões de Fátima” (20 e 21 de Outubro de 2017), realizado na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, impulsionado pela CTEC de Joaquim Fernandes. Também se assinalou positivamente o retomar de contactos com a APPO, agora sob as vestes do CIFA, num novo folego da ovnilogia nacional sempre a cargo do incansável Vítor Moreira.
A vontade de preservar e publicitar o arquivo do GIFI, bem como a sua memória, portanto, foi sendo protelada no âmbito da renovação da página Internet (agora em www.associacaogifi.pt), que também em 2021 veio a tornar-se um projecto em pleno andamento.
No que se refere a divulgação, está na forja um novo projecto de produção de documentários, de que se dará conta quando mostrar ter, efectivamente, pernas para andar.
Em suma, sendo premente, ao fim de 45 anos de actividade, salvaguardar a história e memória do GIFI, heis que nos surgem novas oportunidades de investigação e divulgação, como que a relembrar que o caminho está longe de chegar ao fim. E que nada acontece, manifestamente, por acaso.