Provavelmente perdeu-se já para sempre a memória popular dos mistérios do mundo rural português. A tradição oral da cultura popular e as recolhas dos eruditos não substituem os testemunhos em primeira mão de uma vivência quotidiana do sobrenatural ou, talvez melhor, de uma natureza, de um normal que não se atém ao racional e objectivo pelo qual maioritariamente nos guiamos.

Tivemos ainda oportunidade, nos anos 80 e 90 do século passado, de registar em entrevista quem nos contasse essas histórias, partindo de acontecimentos da sua própria vida.

No caso, José Tavares um octogenário de Valhelhas (Guarda), contou-nos em Março de 1985 como a dada altura, durante uma série de noites, ouviu à sua porta ruídos estranhos, a que os seus cães respondiam ladrando furiosamente.

Intrigado, uma noite acabou por sair de casa, determinado a esclarecer o mistério. Vê, então, um vulto negro com mais de dois metros de comprimento, que se afastava no sentido do fundo da rua dando pulos de seis metros, de cada vez, enquanto os cães do povoado o seguiam ruidosamente.

José Tavares encheu-se de coragem e atirou uma pedra à criatura. De imediato tudo se calou, restando um completo silêncio. Atemorizado, correu a refugiar-se em casa, sendo que logo após fechar a porta nesta ecoou uma série de pancadas extraordinariamente fortes.

Acrescente-se que o barulho que a criatura fazia não era similar ao dos cães, sendo descrito pelo nosso entrevistado como “ãou, ãou”. Não ficou claro qual seria a posição de locomoção desse ser fantástico, mas do conjunto do depoimento parece resultar tratar-se de um animal desconhecido.